quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Massacre do Carandiru - 15 anos

resumo da violência - 111 mortos

A rebelião no (ex) maior presídio da América Latina, Zona Norte da cidade de São Paulo, começou com uma briga no Pavilhão 9, onde estavam encarcerados 2.300 presos considerados os mais perigosos da Casa de Detenção.

O noticiário do dia seguinte da rebelião na Casa de Detenção no Carandiru escondia a verdadeira chacina ocorrida, com 111 presos mortos. Os números do massacre foram mantidos em sigilo pelo governo paulista e os dados finais foram divulgados somente no dia seguinte, quando aconteciam as eleições municipais.

A Polícia Militar alegou que os presos dominaram todo o pavilhão e só foram contidos com a chegada dos 200 homens da tropa de choque da Polícia Militar. Os presos contaram que não houve negociação, porque os policiais do Gate (Grupo de Apoio Tático Especial) e os policiais do Comando de Operações Especiais (Coe), com o apoio de cães adestrados foram abrindo caminho para a tropa de choque da Polícia Militar, que já entrou nas celas atirando.

A versão é assustadora e conta que a ação da polícia humilhou, torturou e liquidou os presos com rajadas de metralhadora e com a fúria dos cães treinados para atacar sem piedade.

Raras vezes na história morreu tanta gente em tão pouco tempo. A brutalidade da tropa de choque paulistana contra os presos do pavilhão 9 encontra poucos paralelos. Foram mais de 100 mortos em apenas 30 minutos.

A Casa de Detenção, que abrigava mais de 7000 internos, foi desativada em 15 de setembro de 2002 e os pavilhões destruídos.

fonte: jbonline.com.br

Segunda reportagem

Beth Ferreira -bitsmag

Um dos episódios mais sangrentos e vergonhosos da história brasileira, o Massacre do Carandirú, presídio paulistano que foi destivado e implodido em 2002, tem movido, nos últimos 15 anos, mídia, organizações de direitos humanos no país e no exterior, políticos e a opinião pública.

Em 1999 o médico oncologista Dráuzio Varella lançou o livro Estação Carandirú, um relato de sua experiência como médico da instituição, mostrando seu olhar imparcial e seu ponto de vista humanista, que não condena e vê com piedade a vida em condições sub-humanas num presídio com lotação esgotada, onde deveriam estar 3 mil, mas existiam mais de 7 mil. O médico realizou, durante anos, um trabalho de prevenção da Aids no presídio. Estação Carandirú já passou dos 400 mil exemplares vendidos, um “best seller” absoluto. Apesar de ser definido como obra de ficção pelo autor, o livro permance na lista dos mais vendidos, desde seu lançamento, na categoria “não-ficção”.

Estreava em maio de 2002, no Brasil, em 220 salas, com distribuição da Sony Classics, o filme Carandiru, do argentino radicado no Brasil Hector Babenco, baseado no livro do amigo e médico particular Dráuzio Varella. Da mesma forma o filme, de estética documental, foi definido pelo diretor como obra de ficção e, mesmo baseado no livro de Dráuzio Varella, apresenta personagens ficcionais.

Filme e livro mostram o cotidiano da Casa de Detenção do Carandirú, culminando com o massacre. Tanto livro quanto filme não esclarecem os fatos de um capítulo tão importante quanto revoltante da história brasileira. Nenhum nome de político ou policial militar é citado, tanto no filme quanto no livro.

O Massacre do Carandirú aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, véspera de eleições municipais. Houve um motim de presos, iniciado não de forma organizada, mas a partir de uma briga entre detentos. A polícia militar de São Paulo foi acionada para neutralizar ânimos mas a situação não foi controlada de forma amena.

Cerca de 350 policiais militares, entre eles oficiais do GATE e da ROTA, divisões especiais que só deveriam ser acionadas em casos extremos, entraram duramente no presídio e balearam a esmo os detentos que estavam desarmados ou portando armas “brancas” como pedras, estiletes ou canivetes.


O saldo foi de 111 presidiários mortos, num banho de sangue executado com requintes de crueldade, com relatos de tortura e humilhação, onde presos nús foram encurralados em suas celas, outros obrigados a carregar os cadáveres dos companheiros mortos e ainda um corredor polonês. Nenhum policial militar morreu na operação. Além dos 111 presidiários mortos, mais de 100 ficaram feridos.

O governador do Estado de São Paulo na época, Luiz Antônio Fleury Filho, só divulgou o número de mortos no dia seguinte, 3 de outubro, meia hora antes do término das eleições municipais. Oficialmente foram 111, mas existem suspeitas de que foram mais de 300.

Até hoje somente uma das pessoas responsabilizadas pelos crimes foi julgada: o coronel da reserva da PM Ubiratan Guimarães, comandante da operação no Carandirú. O governador Fleury não foi responsabilizado por nenhuma morte no presídio e nega ter autorizado a invasão da polícia militar.

O coronel Ubiratan foi julgado e condenado a 632 anos de cadeia. . Quase dois anos após a condenação (junho de 2001), Ubiratan Guimarães permanecia em liberdade. Logo após o julgamento a defesa do coronel entrou com pedido de anulação do julgamento. E por conta daquele pedido que o coronel continuava em liberdade. Além de estar em liberdade o coronel foi eleito com mais de 50 mil votos nas eleições de 2002 para o cargo de deputado estadual por São Paulo. Em 09 de setembro de 2006 foi assassinado em seu apartamento, num crime que ainda não está devidamente esclarecido.

Além dele foram responsabilizados o secretário da Segurança Pública Pedro Franco de Campos, que é procurador da justiça. Campos foi inocentado em todos os processos. O Coronel Antonio Chiari, comandante da tropa da ROTA, o Major Wanderley Mascarenhas, que chefiava a equipe do GATE, o Tenente-coronel Edson Faroro, que chefiava o 2° Batalhão de Choque, o Tenente-coronel Luiz Nakaharada e o major Valter Alves Mendonça aguardam julgamento e estão em liberdade. São diversos processos, na justiça militar e na justiça comum, alguns movidos pelas famílias dos mortos.

Até 2002 nenhuma indenização foi paga às famílias dos mortos do Massacre do Carandirú.

No dia 8 de dezembro de 2002 o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, comandou a implosão do complexo do Carandirú. No lugar do presídio, que existia desde 1956, foi construído um complexo de lazer e cultura, denominado Parque da Juventude.

Beth Ferreira- 2002 - (com atualizações de João Cruzué)
http://www.bitsmag.com.br/conteudo/cidadao/carandiru.htm

João cruzue - cruzue@gmail.com



Um comentário:

Anônimo disse...

Trabalho em uma unidade para adolescentes em conflito com a lei e é algo indescritível, absurdo, sem precedentes, em materiais e principalmente humanos... é a segunda rebelião que tive contato e várias outras estórias violentas e medonhas...